Pesquisadores da Mayo associam o microbioma intestinal ao prognóstico de artrite reumatoide

close-up de mãos com artrite reumatóide

Rochester, Minnesota – Um indicador significativo da possibilidade de um paciente com artrite reumatoide melhorar ao longo da doença pode estar em parte no intestino, de acordo com uma nova pesquisa do Centro de Medicina Individualizada da Mayo Clinic.

O estudo, publicado na Genome Medicine, descobriu que a previsão do futuro prognóstico de artrite reumatoide de um paciente poderia ser possível ao direcionar o foco para os trilhões de bactérias, vírus e fungos que habitam o trato gastrointestinal, conhecido como microbioma intestinal. As descobertas sugerem que os micróbios intestinais e o resultado de um paciente com artrite reumatoide estão relacionados.

“Este é o primeiro estudo realizado até hoje que utiliza os dados do microbioma intestinal para prever a melhora clínica na atividade da doença da artrite reumatoide independentemente da avaliação inicial da condição ou do tratamento prévio”, afirma Jaeyun Sung, Ph.D., biólogo computacional do Centro de Medicina Individualizada da Mayo Clinic e coautor sênior do estudo.

A artrite reumatoide é uma desordem crônica caracterizada por inflamações e dores nas articulações, que podem futuramente evoluir para erosão da cartilagem e dos ossos, deformação das juntas e provocar a perda de mobilidade. Essa complexa doença afeta quase 20 milhões de pessoas no mundo inteiro.

O direcionamento do foco para o microbioma

Para o estudo, a equipe realizou uma análise genômica de precisão ampla, chamada “sequenciamento metagenômico shotgun”, em amostras de fezes de 32 pacientes com artrite reumatoide em duas visitas clínicas separadas. A equipe investigou a conexão entre o microbioma intestinal e as menores mudanças significativas na atividade clínica da doença. A equipe encontrou diversas características do microbioma intestinal relacionadas com o prognóstico futuro.

“Ao examinar os perfis do microbioma intestinal de referência dos pacientes, observamos traços do microbioma significativamente diferentes entre os pacientes que posteriormente mostraram melhora e aqueles que não mostraram”, afirma o Dr. John M. Davis III, reumatologista clínico na Mayo Clinic com um interesse especial em artrite inflamatória. O Dr. Davis é coautor sênior do estudo.

“O que foi surpreendente é que os nossos dados sugerem que, dependendo do futuro resultado clínico, os microbiomas intestinais não apenas começam em diferentes estados orgânicos, mas também crescem e se desenvolvem de maneira diferente”, acrescenta o Dr. Sung.

Posteriormente, mediante o uso da inteligência artificial (IA) de aprendizagem profunda, os investigadores examinaram a possibilidade de prever se um paciente alcançará uma melhora clínica. Em linhas gerais, o desempenho preditivo resultou em 90 por cento de precisão, evidenciando assim a prova do conceito de que a integração do microbioma intestinal e da tecnologia de IA poderia, teoricamente, ser um caminho para prever o curso da doença na artrite reumatoide.

O caminho rumo ao tratamento

“Com mais desenvolvimento, esses biomarcadores de prognóstico poderiam identificar os pacientes que alcançarão uma melhora clínica precoce com uma certa terapia, poupando-os assim das despesas e dos riscos de outras terapias que podem não ser eficazes”, afirma o Dr. Davis. “Por outro lado, essas ferramentas podem detectar os pacientes cujos sintomas da doença têm menor chance de melhora, o que poderia permitir aos médicos localizá-los e monitorá-los mais de perto. Ainda há muito a ser feito, mas estamos no caminho certo para promover o avanço de nossa compreensão sobre esta doença com o objetivo de individualizar a medicina para pacientes com artrite reumatoide.”

Os cientistas suspeitam há algum tempo que o microbioma intestinal exerce um papel na artrite reumatoide, assim como em muitas outras doenças inflamatórias e autoimunes. A enorme população de micróbios ajuda a digerir os alimentos, regula o sistema imunológico e protege contra as bactérias patogênicas.

Os pesquisadores enfatizam que o microbioma de cada pessoa é único e consiste em uma mistura complexa de influências genéticas, dietéticas e ambientais. Essas diferenças ajudam a explicar por que os sintomas variam significativamente entre os pacientes com artrite reumatoide, o que, por sua vez, torna tão difícil tratar e prever o resultado clínico.

O estudo é a segunda investigação recente sobre artrite reumatoide realizada pelos Drs. Sung e Davis, realçando a parceria essencial entre biólogos computacionais e profissionais clínicos para resolver os problemas complexos na medicina. Juntos, eles estão no caminho rumo ao desenvolvimento de um conjunto de novas ferramentas orientadas por dados para ajudar a detecção precoce, o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento da artrite reumatoide. Dessa forma, os pesquisadores planejam explorar as maneiras para traduzir suas descobertas em novos biomarcadores e terapias.

“Em última análise, nosso estudo revela que a modificação do microbioma intestinal para melhorar o resultado clínico pode ser promissor como um tratamento futuro para a artrite reumatoide”, afirma o Dr. Sung. “Isso pode revolucionar a maneira como entregamos cuidados para nossos pacientes.”

O trabalho foi financiado em parte pelo Centro de Medicina Individualizada da Mayo Clinic e por Mark E. e Mary A. Davis.

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