Novo estudo descobre que tumores de câncer de mama triplo-negativos com um aumento nas células imunes tiveram menor risco de recorrência após cirurgia, mesmo quando não houve tratamento com quimioterapia
ROCHESTER, Minnesota. — Um novo estudo multicentro e internacional sugere que as pessoas portadoras de câncer de mama triplo-negativo em estágio precoce, com níveis elevados de células imunes dentro desses tumores, podem ter um baixo nível de recorrência e melhores taxas de sobrevivência, mesmo quando não houve tratamento com quimioterapia. O estudo foi publicado na revista da Associação Médica Americana (JAMA).
O subtipo de câncer de mama triplo-negativo não apresenta resposta aos medicamentos direcionados ao receptor de estrogênio ou à proteína HER2. Ele cresce rapidamente, tem maior probabilidade de se espalhar além da mama antes do diagnóstico e tem maior probabilidade de recorrência em comparação com outros cânceres de mama. O câncer de mama triplo-negativo representa cerca de 15 por cento de todos os cânceres de mama e é mais comum em pessoas jovens e em mulheres de ascendência africana, hispânica e indiana. As células imunes, também conhecidas como linfócitos infiltrantes de tumor ou TILS, são células do sistema imunológico naturalmente existentes que podem se mover da corrente sanguínea para o tumor, e então, elas podem reconhecer e destruir as células cancerígenas.
“Esta é uma importante descoberta, pois revela que a abundância de linfócitos infiltrantes de tumor no tecido mamário é um biomarcador prognóstico nas pessoas com câncer de mama triplo-negativo em estágio precoce, mesmo quando a quimioterapia não é administrada”, explica o Dr. Roberto Leon-Ferre, oncologista médico-mamário no Centro de Câncer da Mayo Clinic e primeiro autor do estudo. “As descobertas do estudo podem inspirar futuros ensaios clínicos para explorar a possibilidade de pacientes com prognóstico favorável (altos níveis de linfócitos infiltrantes de tumor) poderem evitar regimes intensivos de quimioterapia”.
“A meta-análise confirma de maneira sólida a importância prognóstica dos linfócitos infiltrantes de tumor, previamente observados em pacientes submetidos à quimioterapia, sendo esta observação também validada em pacientes tratados sem esse tipo de intervenção”, explica a Dra. Sarah Flora Jonas, estatística no Gustave Roussy e primeira coautora do estudo. “Estudos futuros permitirão usar esse biomarcador juntamente com fatores clínicopatológicos padrão para fornecer informações que embasarão as decisões de tratamento em pacientes com câncer de mama triplo-negativo”.
“É notável que o primeiro relatório sugerindo que o aumento de células imunes associadas com o melhor prognóstico em pacientes com câncer de mama tenha sido descrito por médicos da Mayo Clinic há mais de 100 anos”, explica o Dr. Roberto Salgado, copresidente do Grupo de Trabalho Internacional de Biomarcadores de Imuno-Oncologia e co-líder do estudo. “Houve um empenho global e levou um século para reexaminar esse biomarcador e trazer tudo isso para a aplicação nos cuidados do paciente”.
“Os linfócitos infiltrantes de tumor não são medidos ou relatados atualmente nos exames de rotina de amostras de tecido de câncer de mama”, explica o coautor sênior, o Dr. Matthew Goetz, oncologista médico no Centro de Câncer da Mayo Clinic, e o professor da família Erivan K. Haub, da pesquisa em câncer, em homenagem ao Dr. Richard F. Emslander. “Ainda que os estudos prévios tenham direcionado o foco para a medição dos linfócitos infiltrantes de tumor em pessoas tratadas com quimioterapia, este é o estudo mais amplo que demonstra em abrangência a presença das influências do comportamento natural dos linfócitos infiltrantes de tumor em câncer de mama nas pessoas que fizeram cirurgia e/ou receberam radiação sem nenhum tratamento médico adicional”.
Para este estudo, os pesquisadores da Mayo Clinic e Gustave Roussy, em colaboração com o Grupo de Trabalho Internacional de Biomarcadores de Imuno-Oncologia, lideraram a coleta de dados em 11 grupos adicionais com 1.966 participantes com câncer de mama triplo-negativo em estágio precoce que se submeteram apenas a cirurgia, com ou sem radioterapia, mas sem quimioterapia. Os participantes foram acompanhados por 18 anos em média. Os resultados demonstraram que os altos níveis de linfócitos infiltrantes de tumor no tecido do câncer de mama estavam associados com as baixas taxas de recorrência entre os participantes com câncer de mama triplo-negativo em estágio precoce.
“Cinco anos após o estudo, 95 por cento dos participantes com pequenos tumores, câncer de mama triplo-negativo em estágio 1 e os pacientes cujos tumores tinham altos níveis de linfócitos infiltrantes de tumor estavam vivos, em comparação com 82 por cento dos pacientes cujos tumores tinham baixos níveis de linfócitos infiltrantes de tumor. O mais importante é que a taxa de recorrência do câncer de mama foi significativamente inferior entre os pacientes cujos tumores tiveram altos níveis de linfócitos infiltrantes de tumor”, explica o coautor sênior, Dr. Stefan Michiels, chefe da equipe Oncostat, Gustave Roussy, Inserm U1018, Universidade Paris-Saclay. “Com aproximadamente 2.000 participantes envolvidos no estudo, reunimos o maior conjunto internacional de pessoas com câncer de mama triplo-negativo, em três continentes, no qual o tratamento primário era a cirurgia sem quimioterapia”.
“Os resultados do estudo poderiam levar à recomendação de inclusão dos linfócitos infiltrantes de tumor nos relatórios patológicos de câncer de mama triplo-negativo em estágio precoce ao redor do mundo, uma vez que eles têm o potencial de informar aos médicos e pacientes sobre o momento adequado para a escolha das opções de tratamento”, explica o Dr. Salgado.
Além disso, o biomarcador só requer uma avaliação visual realizada por um patologista sob observação microscópica, o que implica ausência de custos adicionais associados à identificação de células imunes. Isso poderia ser particularmente benéfico para regiões com recursos limitados, acrescenta o Dr. Leon-Ferre.
A maioria das pessoas com câncer de mama triplo-negativo em estágio precoce recebem quimioterapia antes ou depois da cirurgia, inclusive as pessoas com câncer de mama em estágio 1. Além disso, a maioria das pessoas recebe medicamentos quimioterápicos combinados, o que pode resultar em efeitos colaterais consideráveis. Atualmente, os principais critérios considerados para decidir o protocolo de tratamento quimioterápico para cada indivíduo incluem o tamanho do tumor e a presença de metástases nos linfonodos. No entanto, os autores observaram que a quantidade de linfócitos que infiltram o tumor exerce uma influência adicional sobre os riscos de recorrência futura.
Os cientistas planejam analisar os linfócitos infiltrantes de tumor como biomarcadores em estudos clínicos prospectivos que investigam a escolha de quimioterapia com base nos níveis desses linfócitos. Atualmente, há esforços para a condução de pesquisas adicionais com outros potenciais biomarcadores.
Veja o estudo completo para ter acesso à lista integral de autores, divulgações e financiamento.
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