Pesquisadores da Mayo Clinic identificam os primeiros sinais de risco do câncer de ovário

ROCHESTER, Minnesota — Ainda se sabe muito pouco sobre as causas do câncer de ovário, e, até o momento, não há um método eficaz para detectá-lo precocemente. Cerca de 75% dos casos são diagnosticados já no estágio 3 ou 4, o que significa que a doença já se espalhou para outras partes do corpo. Médicos, pesquisadores e pacientes da Clínica Mayo vinham trabalhando juntos para entender melhor essa doença devastadora, quando um paciente de 22 anos com duas condições genéticas raras que aumentam drasticamente o risco de câncer ao longo da vida, procurou atendimento na Clínica Mayo.

A paciente possui uma mutação hereditária no gene BRCA2, um dos genes associados à síndrome hereditária de câncer de mama e/ou ovário (HBOC, sigla em inglês), além de uma mutação hereditária no gene TP53, que causa a síndrome de Li-Fraumeni.

Na Mayo Clinic, ela foi diagnosticada com câncer de mama. Exames de imagem também revelaram a presença de um cisto no ovário. Embora o cisto fosse benigno, ela decidiu submeter-se a uma mastectomia e uma histerectomia com remoção dos ovários e das tubas uterinas, procedimento conhecido como salpingo-ooforectomia bilateral, devido ao alto risco de desenvolver câncer. Após uma análise mais aprofundada, sua médica da Mayo Clinic e a equipe de pesquisa identificaram alterações iniciais e ocultas nas células que revestem suas tubas uterinas, revelando sinais que podem indicar os primeiros estágios do câncer de ovário, antes do aparecimento de sintomas ou lesões visíveis.

"Nossa equipe vislumbrou um fenômeno raro e revelador na biologia epitelial, descoberto por meio das células de um jovem paciente que vive com condições genéticas de altíssimo risco.

Usando tecnologias de ponta de células únicas, rastreamos como suas células epiteliais foram alteradas em seu desenvolvimento de maneiras que sinalizaram um alto risco de câncer de ovário letal. Esses insights podem abrir portas para futuras estratégias de detecção da doença em seus estágios mais precoces e pré-cancerígenos, quando a prevenção ainda é possível," afirma o Ph. D. Nagarajan Kannan, diretor do Laboratório de Biologia do Câncer e Células-tronco da Mayo Clinic e coautor principal do estudo publicado na JCO Precision Oncology.

Dra. Jamie Bakkum-Gamez

A Dra. Jamie Bakkum-Gamez, cirurgiã oncoginecológica da paciente na Mayo Clinic, afirma estar determinada a encontrar uma forma de detectar o câncer de ovário precocemente, com o objetivo de salvar mais vidas.

"Sabemos que a forma mais agressiva e comum do câncer de ovário muitas vezes começa, na verdade, nas tubas uterinas. No entanto, ainda não se sabe por que essa região é afetada e como esse processo se inicia. Compreender como o câncer de ovário se inicia e se desenvolve pode não apenas levar à criação de ferramentas de triagem mais precoces, mas também a estratégias de redução de risco mais personalizadas e a uma melhor orientação sobre o momento ideal para cirurgias preventivas e planejamento de fertilidade," afirma a Dra. Bakkum-Gamez, coautora principal do estudo.

Juntos, o Dr. Kannan e a Dra. Bakkum-Gamez criaram um biobanco vivo de tubas uterinas na Mayo Clinic. As células e os tecidos doados por pacientes ajudam os cientistas a estudar como o câncer de ovário se inicia — célula por célula — diretamente em tecido humano. A partir das amostras dos pacientes, é possível cultivar organoides, que são pequenas versões das tubas uterinas. O biobanco inclui organoides de pacientes com risco médio a alto de câncer de ovário e é especializado em mutações de câncer hereditárias, como as relacionadas às síndromes HBOC e Li-Fraumeni.

Ph. D. Nagarajan Kannan

"A origem celular exata do câncer de ovário continua sendo uma das maiores questões em aberto na prevenção do câncer — o que limita nossa capacidade de intervir a tempo e salvar vidas. Este trabalho estabelece as bases para uma nova era de detecção precoce e prevenção de precisão do câncer de ovário, especialmente para pacientes com risco hereditário, como as mutações no gene BRCA," afirma o Dr. Kannan.

Uma tuba uterina saudável é composta por dois tipos principais de células epiteliais: as células multiciliadas, que possuem centenas de cílios ou apêndices semelhantes a fios de cabelo que ajudam a mover o óvulo fecundado pela tuba uterina, e as células secretoras, que secretam fluidos para nutrir e proteger o embrião em desenvolvimento. Contudo, nas células coletadas da tuba uterina da paciente com HBOC e síndrome de Li-Fraumeni, os cientistas observaram algo que nunca haviam visto antes. As células secretoras estavam presentes em número muito maior que as multiciliadas, substituindo a distribuição típica dos dois tipos de células epiteliais na tuba uterina. Eles também descobriram que essas células secretoras estavam promovendo uma inflamação crônica — um fator já conhecido por contribuir para o desenvolvimento do câncer.

Megan Ritting

"Por meio do sequenciamento de RNA de célula única, conseguimos observar as alterações no desenvolvimento das células que revestem o lúmen da tuba uterina — descobertas que podem ajudar a redefinir como entendemos e, em última análise, prevenimos o câncer de ovário," diz Megan Ritting, coautora principal e aluna de doutorado da Escola de Pós-Graduação em Ciências Biomédicas da Mayo Clinic. Ritting liderou o uso da tecnologia genômica de ponta nesse estudo.

Além disso, contraceptivos orais contendo progestagênios, ou análogos sintéticos do hormônio progesterona produzido pelos ovários, podem ser utilizados para reduzir o risco de câncer de ovário em até 50%. No entanto, Ritting e a equipe de pesquisa ficaram surpresos ao observar que as células da tuba uterina dessa paciente não apresentavam nenhuma proteína receptora de progesterona, o que sugere que os contraceptivos orais talvez não fossem eficazes na redução do risco de câncer de ovário para ela.

"Com a parceria generosa de pacientes que permitem que suas células sejam estudadas com o uso de tecnologias avançadas, incluindo modelos de organoides, estamos avançando significativamente na compreensão de como esses cânceres se desenvolvem. Este trabalho representa um passo importante em direção à identificação de oportunidades para desenvolver estratégias preventivas, tratamentos e abordagens que possam reduzir o risco de câncer de tuba uterina e de ovário," afirma a Dra. Bakkum-Gamez.

Nas próximas etapas desta pesquisa, utilizando o biobanco de tubas uterinas vivas, os cientistas investigarão como e onde se originam os primeiros sinais do câncer de ovário.

Reveja o estudo para uma lista completa de autores, divulgações e financiamento. 

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