Frequentemente visto como dejeto, as fezes podem fornecer pistas sobre o papel da microbiota no tratamento do câncer 

ROCHESTER, Minnesota — No Centro de Medicina Personalizada da Mayo Clinic, cientistas estão investigando amostras de fezes para descobrir novas informações sobre o tratamento do câncer. Visto frequentemente como o dejeto, o material fecal pode fornecer dados valiosos sobre a microbiota — um ecossistema complexo de microrganismos, incluindo bactérias, fungos e vírus no intestino.

Evidências crescentes mostram que a microbiota desempenha um papel essencial na saúde, incluindo como o corpo responde a doenças como o câncer e como ela influencia os resultados do tratamento. 

Uma parte fundamental da pesquisa da equipe é o projeto oncobioma, que inclui uma grande coleção de amostras de fezes de pacientes com câncer nos campus da Mayo Clinic em Minnesota, Arizona e Flórida. Essas amostras, coletadas antes de os pacientes iniciarem o tratamento, estão ajudando os pesquisadores a identificar padrões microbióticos que preveem a forma como o paciente responderá aos tratamentos e, possivelmente, abrir portas para estratégias de tratamento do câncer mais personalizadas.

O que diferencia o projeto oncobioma é o seu design estratégico, que conecta a pesquisa à prática clínica. Esta abordagem facilita a tradução das descobertas científicas em tratamentos personalizados para pacientes oncológicos. 

Dr. e cirurgião Purna Kashyap

"Em última análise, esperamos personalizar planos de tratamento que forneçam o medicamento certo no momento certo, com base na microbiota única e na genética de cada pessoa", explica o Dr. e cirurgião Purna Kashyap, diretor Bernard and Edith Waterman do Programa de Microbiotas da Mayo Clinic.

No cerne do projeto, está a coleta e análise de mais de 2 mil amostras de fezes. Esse vasto biobanco possibilita que o Dr. Kashyap e sua equipe examinem se a composição da microbiota está relacionada a tipos específicos de câncer. Eles também estão investigando se a microbiota pode prever a probabilidade de sobrevida livre de eventos para pacientes com câncer, como o linfoma, que estão passando por diferentes tipos de tratamento.

Além disso, o projeto explora se as enzimas e metabólitos produzidos pela microbiota intestinal podem oferecer informações sobre como os pacientes responderão às imunoterapias contra o câncer e ajudar a identificar possíveis reações adversas.

"Incluímos um grupo diversificado de pacientes em diferentes estágios de diversos tipos de câncer e submetidos a vários tipos de tratamentos. Isso nos permite identificar padrões microbióticos que preveem os resultados mais eficazes no tratamento do câncer, independentemente do tipo de câncer subjacente", diz o Dr. Kashyap.

Além de personalizar o tratamento do câncer, a equipe está integrando "ômicas" adicionais para obter uma compreensão mais profunda sobre a genética, o ambiente e o estado imunológico dos pacientes. Isso inclui a genômica (o estudo de genes), proteômica (proteínas), exposômica (exposições ambientais), metabolômica (processos metabólicos) e transcriptômica (transcrição do RNA).

O Ph.D. Ruben Mars, cientista e pesquisador no Centro de Medicina Personalizada, está desempenhando um papel fundamental na liderança de diversos estudos dentro do projeto oncobioma para entender como os micróbios afetam o risco de desenvolvimento de câncer, a eficácia dos tratamentos e os mecanismos por trás de eventuais efeitos colaterais.

"Embora uma microbiota intestinal diversificada e equilibrada seja altamente reconhecida como benéfica para a nossa saúde, identificar mudanças microbianas específicas que melhorem os resultados do tratamento continua sendo um desafio", afirma o Dr. Mars. "Por meio do projeto oncobioma, estamos otimistas em desenvolver métodos inovadores para manipular a microbiota e, finalmente, melhorar o tratamento do câncer para os pacientes."

Esta pesquisa faz parte de uma série mais ampla de investigações da equipe sobre a microbiota. Seus estudos publicados recentemente focam no papel da microbiota em doenças intestinais e cerebrais, incluindo como as bactérias afetam as funções intestinais, como a motilidade. Outros trabalhos publicados investigam infecções por C. difficile, analisando como as bactérias persistem no intestino.

Os cientistas da microbiota da Mayo Clinic também estão estudando o impacto da microbiota intestinal na progressão da artrite reumatóide e na resposta dos pacientes ao tratamento. Em outro estudo, a equipe associou um micróbio específico, o Porphyromonas somerae, ao câncer endometrial, descobrindo que sua atividade intracelular pode desempenhar um papel patogênico na doença.

###

Sobre a Mayo Clinic
A Mayo Clinic é uma organização sem fins lucrativos comprometida com a inovação na prática clínica, educação e pesquisa, fornecendo compaixão, conhecimento e respostas para todos que precisam de cura. Visite a Rede de Notícias da Mayo Clinic para obter outras notícias da Mayo Clinic.

Contato de mídia:

[mayoNnVideoDownload]