O que é considerado clinicamente significativo para desacelerar a progressão do Alzheimer?
Especialistas reformulam o entendimento do impacto do tratamento ao longo do tempo e a necessidade de terapias combinadas
ROCHESTER, Minnesota — Um grupo de trabalho de especialistas reformulou o que é considerado clinicamente significativo para desacelerar a progressão da doença de Alzheimer durante ensaios clínicos, incluindo o impacto do tratamento ao longo do tempo e a necessidade de terapias combinadas. A revista médica Alzheimer's & Dementia: The Journal of the Alzheimer's Association publicou as descobertas e recomendações do grupo:
- Desacelerar a progressão da doença em vez de interrompê-la (o que pode acontecer eventualmente), oferece benefícios mensuráveis e significativos para os pacientes e suas famílias, especialmente no início da doença de Alzheimer, quando a cognição e a memória estão quase ou totalmente intactas.
- Um benefício estatisticamente significativo em um ensaio clínico de 18 meses pode significar e levar a uma mudança ainda maior quando projetado nos anos seguintes.
- É improvável que uma intervenção única nas alterações cerebrais relacionadas à demência tenha um grande efeito clínico. Para obter maior impacto, serão necessárias terapias combinadas, assim como são tratados atualmente a pressão arterial elevada e o câncer.
O processo da doença de Alzheimer ataca o cérebro por anos, ou até décadas, antes que a pessoa desenvolva problemas de memória e raciocínio. Mas os ensaios clínicos para terapias modificadoras da doença no estágio sintomático geralmente duram cerca de 18 meses. Observando os resultados dos ensaios de medicamentos, o grupo de trabalho reunido pela Alzheimer’s Association considerou como os pacientes, suas famílias e a comunidade científica avaliam o que é significativo quando se trata de desacelerar a progressão da doença de Alzheimer.
“Desacelerar a deterioração do cérebro até quatro a seis meses nos estágios iniciais da doença de Alzheimer pode levar à preservação da função dos pacientes, e isso pode ser muito significativo para eles e para suas famílias”, diz o Dr. Ronald Petersen, Ph.D., neurologista da Mayo Clinic, membro do grupo de trabalho e autor principal do artigo da revista. “Quanto mais a pessoa conseguir desacelerar a perda de independência e continuar a participar das atividades diárias, mais significativos se tornam esses resultados.”
As alterações no cérebro causadas pela doença de Alzheimer não acontecem isoladamente. Uma pessoa com deficiência cognitiva normalmente tem outros processos de neurodegeneração que ocorrem ao mesmo tempo.
Em um ensaio clínico de 18 meses, “espera-se que o impacto clínico observado de uma intervenção única seja bastante modesto”, escrevem os autores. Entretanto, se a terapia continuar por mais tempo e a eficácia for mantida, os benefícios cumulativos se tornarão mais visíveis.
O grupo de trabalho observa que, assim como a pressão arterial elevada e o câncer são tratados com vários medicamentos, também serão necessárias diversas intervenções terapêuticas para tratar alterações cerebrais complexas e problemas relacionados à memória e ao raciocínio.
“O grupo de trabalho reconheceu que precisamos mudar as expectativas de uma intervenção única em um conjunto complexo de processos neurodegenerativos, mas o progresso recente com os medicamentos recém-aprovados para o Alzheimer é um enorme primeiro passo”, diz o Dr. Petersen.
Um artigo da Alzheimer’s Association Research Roundtable publicado em 2021 citou a descrição da significância clínica da Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (Food and Drug Administration) como quando “o tratamento tem efeito positivo e significativo na maneira como a pessoa se sente, funciona ou sobrevive.”
A interpretação da significância clínica fará parte das conversas entre médicos e pacientes e suas famílias ao considerar possíveis benefícios, riscos e desafios das terapias modificadoras da doença recém-aprovadas para tratar a doença de Alzheimer.
“Esse é um processo de tomada de decisão compartilhado em que pacientes e familiares conversam com os médicos sobre qualquer possibilidade de tratamento”, diz o Dr. Petersen. “Ao discutirmos a significância clínica de desacelerar a progressão da doença de Alzheimer, devem ser comunicadas expectativas realistas dos riscos e dos benefícios.”
O Dr. Petersen é diretor Chester and Debbie Cadieux do Centro de Pesquisa da Doença de Alzheimer da Mayo Clinic, professor titular da cátedra Cora Kanow de Pesquisa da Doença de Alzheimer e diretor do Estudo da Mayo Clinic sobre Envelhecimento. Ele recebeu subsídios ou firmou contratos com os Centros de Pesquisa da Doença de Alzheimer do Instituto Nacional do Envelhecimento, a Iniciativa de Neuroimagem da Doença de Alzheimer, o Consórcio de Ensaios Clínicos de Alzheimer e o Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e AVC; além de honorários de consultoria da Roche, Nestlé, Merck, Biogen, Eisai e Genentech.
Uma lista completa de autores, afiliações e divulgações pode ser encontrada no artigo da revista.
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