• Dr. Carolyn Landolfo, cardiologista da Mayo Clinic de Jacksonville, Flórida:

Carolyn Landolfo, M.D., a cardiologista da Clínica Mayo de Jacksonville, Flórida, é especializada no tratamento de mulheres com doenças cardíacas, doenças das válvulas do coração e em ecocardiografia. Antes de vir para a Clínica Mayo, ela completou um fellowship em cardiologia na Universidade de Michigan, em Ann Arbor, e residência em medicina interna no Beth Israel Hospital da Escola de Medicina de Harvard, em Boston, Massachusetts.

Que tipos de doenças cardíacas as mulheres têm de tomar mais cuidado?

Dr. Landolfo — Para entender o que pode causar o mau funcionamento do coração, é preciso entender como o coração funciona. O coração é um órgão muscular que bombeia sangue, rico em oxigênio, para o cérebro e todo o resto do corpo. Para o músculo do coração funcionar apropriadamente, ele precisa ter seu próprio suprimento de sangue. As artérias coronárias, que exercem a função de "dutos sanguíneos" do coração, se encarregam de manter o fluxo do sangue. O coração também depende de "eletricidade", que o faz bater em ritmo regular. E o coração dispõe de válvulas que, como comportas, regulam o fluxo do sangue entre as câmaras.

A forma mais comum de doença cardíaca é a doença de artéria coronária, um problema que envolve o acúmulo de colesterol, cálcio e outras células (a placa aterosclerótica) dentro das artérias. Essa formação da placa pode resultar em dores no peito ou mesmo em infarto agudo do miocárdio (popularmente, ataque cardíaco), quando o suprimento sanguíneo é reduzido. Vários problemas podem ocorrer, fazendo com que os músculos do coração se enfraqueçam e, portanto, a função de bombeamento seja reduzida. Esse problema é conhecido como insuficiência cardíaca congestiva. Há muitos problemas que afetam a eletricidade do coração, o que pode transmitir a sensação de um ritmo cardíaco irregular. O coração pode bater rápido demais, devagar demais ou fora de ritmo. Além desses distúrbios, as válvulas podem ter vazamentos ou podem emperrar. Frequentemente, precisam ser substituídas. Todas essas condições — e muitas outras — afetam as mulheres.

As mulheres com mais de 50 anos correm um risco maior de doenças cardíacas? Ou esse é um problema das mulheres de todas as idades?

Dr. Landolfo — O risco de desenvolver cardiopatias coronarianas aumenta com a chegada da menopausa. Todas as mulheres correm riscos de doenças cardíacas ainda jovens, mas isso é muito mais comum em mulheres que entram na menopausa, quando os riscos se tornam maiores. Mulheres jovens, principalmente aquelas que fumam ou têm diabetes, correm um risco maior de desenvolver cardiopatias coronarianas, mesmo antes da chegada da menopausa.

Mulheres jovens correm riscos de contrair outros tipos de doenças cardíacas. Elas podem ter espasmos das artérias coronárias, defeitos cardíacos congênitos (de nascença) e, além disso, uma forma rara e devastadora de doença da artéria coronária chamada de Dissecção Espontânea de Artéria Coronária, que pode ocorrer depois do parto.

Como a menopausa afeta o coração da mulher?

Dr. Landolfo — Conforme nos aproximamos da menopausa, sabemos que nossos níveis de estrogênio diminuem e o risco de doenças cardíacas aumenta. Ao mesmo tempo em que passamos pela menopausa, fatores de risco da doença da artéria coronária, tais como hipertensão arterial (pressão alta) e alto nível de colesterol LDL, tendem a piorar. Todas essas coisas mudam com o envelhecimento, de forma que a mulher deve prestar mais atenção a seus sintomas.

No que se refere à terapia de reposição hormonal (TRH), por muitos anos os médicos prescreveram hormônios como forma de prevenção de doenças cardíacas. Mas, agora, sabemos que a TRH não reduz os riscos de doença cardíaca. Em alguns casos, se ela é iniciada em uma idade mais avançada, pode aumentar os riscos de infarto do miocárdio ou de acidente vascular cerebral (derrame cerebral). Apoiamos o uso da TRH durante a menopausa apenas para controlar os sintomas da menopausa. Não recomendamos a prática de reposição hormonal a longo prazo, porque isso gera riscos de câncer de mama e coágulos do sangue. Assim os cardiologistas não recomendam a TRH como forma de prevenir doenças cardíacas, mas a aprovam como forma de controle dos sintomas da menopausa, desde que de maneira contida. Com idade mais avançada, quando a mulher enfrenta problemas de secura vaginal, preferimos recomendar o uso local de cremes de estrogênio, que podem ser mais seguros.

Mas, ainda acreditamos que nossos hormônios naturais podem ser protetores. Portanto, a menopausa prematura é um fator de risco de doenças cardíacas também. Se a mulher fuma ou tem diabetes, os benefícios do estrogênio podem ser neutralizados.

Quais são os fatores de risco mais comuns em mulheres?

Dr. Landolfo — Os fatores de risco mais comuns de doenças cardíacas são o diabetes, o fumo, a hipertensão, o colesterol alto e o histórico familiar de doença cardíaca prematura. Todas as mulheres, jovens ou idosas, precisam se focar em manter esses fatores de risco sob controle, para prevenir o desenvolvimento de doenças cardíacas em algum ponto da vida.

Mulheres que têm hipertensão, mesmo em caso de pressão arterial moderada antes do início da menopausa, correm um risco maior de desenvolver doenças cardíacas mais tarde, na vida. Assim, é importante prestar atenção ao que chamamos de pré-hipertensão, no intervalo da pressão arterial sistólica (o maior valor verificado na aferição), entre 120 a 130 mmHg. Uma pressão arterial sistólica superior a 130 mmHg é considerada agora uma hipertensão moderada.

Maior risco também ocorre quando o nível de colesterol "mau" é alto e/ou o nível do colesterol "bom" — o HDL — é baixo. O colesterol é um fator de risco que tende ser igualmente importante nos dois gêneros. Altos níveis de triglicerídeos (gordura) também constituem um fator de risco considerável, particularmente nas mulheres.

No caso das mulheres, estamos examinando agora outro marcador inflamatório, chamado de fator da proteína C-reativa (PCR). Para quem tem um alto nível de PCR, mais um alto nível de colesterol, os riscos de contrair doenças cardíacas no futuro aumenta significativamente.

Há outros fatores de risco para a mulher?

Dr. Landolfo — Entre outros fatores de risco que podem expor a mulher a doença de risco estão ciclos menstruais irregulares e a síndrome do ovário policístico. Com referência às mulheres nos anos iniciais da maternidade, sabemos que aquelas que sofrem hipertensão durante a gravidez podem correr mais riscos de desenvolver doenças cardíacas mais tarde, na vida.

E no caso de mulheres que desenvolvem diabetes gestacional?

Dr. Landolfo — O diabetes gestacional é um fator de risco de desenvolvimento do diabetes em algum ponto da vida, o que, por sua vez, é um fator de risco considerável para o desenvolvimento de doenças cardíacas.

E no caso de mulheres com artrite reumatoide?

Dr. Landolfo — A artrite e outros problemas como o lúpus são doenças inflamatórias. Como uma doença cardíaca também é uma doença inflamatória, o processo de desenvolvimento de aterosclerose (placa nas artérias do coração) pode ser acelerado por problemas de artrite. O problema em si aumenta os riscos, mas, mais do que isso, os tratamentos também o fazem. Os pacientes que fazem tratamento com corticosteroides por longo prazo podem acelerar a aterosclerose.

Os sintomas dos problemas do coração são muito diferentes em homens e mulheres?

Dr. Landolfo — Os sintomas da doença da artéria coronária podem, definitivamente, ser diferentes entre homens e mulheres. Mas, frequentemente, isso depende da situação. Durante um infarto do miocárdio, por exemplo, homens e mulheres tendem a ter sintomas similares: dores esmagadoras no peito, abaixo do esterno (osso do peito), sensação de peso no peito — não uma dor, mais uma pressão, rigidez, uma sensação de aperto, transpiração e náusea. A dor pode se irradiar para o braço, as costas, o pescoço ou para o maxilar.

As diferenças entre os sintomas de homens e mulheres tendem a se acentuar quando não se trata de uma problema repentino, mas de um desenvolvimento progressivo de bloqueios dentro das artérias. Nessa situação, os homens tendem a apresentar mais sintomas típicos, tais como pressão no peito, frequentemente associada ao esforço. As mulheres, por sua vez, também podem apresentar os sintomas mais comuns da doença, mas é bem provável que elas também reclamem de sintomas que não tem nada a ver com o tórax.

Por exemplo, elas podem reclamar, mais que os homens, de fatiga, falta de ar (um sintoma muito predominante em mulheres) ou mesmo distúrbios do sono. Elas sentem mais desconforto nas costas, nos braços e no pescoço. Infelizmente, muitas vezes esses sintomas são atribuídos à idade, à menopausa ou ao estresse.

Frequentemente, as mulheres negam seus próprios sintomas, de forma que esses sinais de advertência não são detectados ou são ignorados pelos médicos. Um dos problemas reais é o de que as mulheres, elas mesmas, costumam minimizar seus sintomas. Elas não admitem que esses sintomas podem, possivelmente, estar relacionados a doenças cardíacas.

Assim, digo a meus pacientes e faço a mesma coisa quando estou falando a um grupo de mulheres que se sentirem qualquer coisa fora do normal — por exemplo, se já não conseguem fazer as coisas de sempre, porque se sentem mais cansadas do que antes, ou se sentirem falta de ar quando se entregam a alguma atividade costumeira, sem sentir esse sintoma — então elas devem se perguntar: "Isso pode ser um sinal de doença cardíaca"? Se a mulher considera que essa é uma possibilidade, está na hora de consultar um médico para tirar a dúvida.

Que tipos de exames a mulher deve fazer, quando busca por esclarecimentos de suas dúvidas?

Dr. Landolfo — As mulheres devem fazer essas perguntas: "Será que tenho uma doença cardíaca? Quais são os riscos de eu contrair uma doença cardíaca? Como pode ser confirmado que eu não sofro de uma doença cardíaca"? Em geral, os testes solicitados para detectar doenças cardíacas dependem de muitos fatores, como os sintomas que os pacientes estão sentindo, os fatores de risco e a idade.

No caso de mulheres que vêm ao consultório para um "check-up do coração", mas não apresentam quaisquer sintomas, elas devem, no mínimo, fazer exames de colesterol, pressão arterial, peso e taxa de glicose no sangue. Eu gosto de fazer um exame de sangue para a proteína C-reativa, que é parte dos exames que prescrevo para verificar o perfil de lipídio de uma paciente. Os exames de imagem que as mulheres podem fazer dependem de seus fatores de risco, idade e sintomas.

As mulheres precisam ser informadas sobre os vários exames. Se uma mulher não apresenta sintomas, então não precisamos necessariamente realizar um teste de esforço, por exemplo. Mas, se alguém tem um histórico de doenças cardíacas na família ou se pelo menos um fator de risco é predominante, então essa pessoa deverá passar por uma bateria de testes.

Em que caso é preciso fazer exames de imagem?

Dr. Landolfo — Há muitos testes diferentes para se fazer exames ou diagnosticar doenças cardíacas. Quando examino uma mulher que sente desconforto no tórax, falta de ar ou qualquer sintoma incomum, a pergunta que faço é: "Ela tem alguma placa nas artérias do coração"? Fazemos, com frequência, teste de esforço para excluir, se for o caso, algum bloqueio sério, que pode estar causando uma obstrução do fluxo de sangue. A maioria das pessoas pensa que um teste de esforço normal significa que não há bloqueios. Mas esse não é o significado do teste. Um teste de esforço normal significa que elas não têm um bloqueio que está causando uma redução no fluxo de sangue para o coração.

Assim, a próxima pergunta é: "Se ela não tem um bloqueio que obstrui a passagem de sangue, ela tem uma placa"? Responder a essa pergunta é um pouco mais difícil. Frequentemente, uma tomografia computadorizada é realizada para se localizar a presença de cálcio nas artérias. Quando alguém desenvolve placas em suas artérias e a placa permanece lá por um certo tempo, há formação de cálcio. Como o cálcio aparece em um raio-X, podemos fazer esse exame.

Outro teste, que fazemos frequentemente para identificar casos prematuros de aterosclerose, é buscar por placas nas artérias carótidas com a ajuda de ultrassom. Esse teste é uma boa ferramenta para localizar placas, de uma forma geral. Se a pessoa tem placas em excesso em suas artérias carótidas — se o revestimento da artéria carótida engrossou — então há uma boa possibilidade de que ela as tenha em seu coração também. As placas nas artérias carótidas servem como um indicador de que a pessoa pode ter placas acumuladas em suas artérias do coração também.

Qual são as dificuldades de ser mulher e cardiologista? Quais são as satisfações?

Dr. Landolfo — Ganhar o respeito dos pacientes e dos colegas é um desafio para a mulher. Eu não me enquadro no estereótipo do médico de cabelos grisalhos, vestido em seu jaleco branco. Conforme amadureci na carreira, entretanto, aprendi que não preciso ser durona ou agir como um homem para ganhar o respeito das pessoas.

Quando estou mais tranquila e tento me conectar com as pacientes em um nível pessoal, percebo que faço um trabalho bem melhor ao tratá-las. Eu realmente desfruto a conexão que estabeleço com os pacientes de uma maneira geral, mas especialmente com as pacientes. Eu realmente posso entender os sintomas de um ponto de vista feminino — perceber o que elas estão passando, do que têm medo e o que têm receio de perguntar.

E eu penso que as mulheres são mais abertas comigo. Elas podem falar sobre seus relacionamento, comentar sobre seus medos. Eu conto a elas coisas da minha vida pessoal. Eu acho que é realmente a conexão pessoal, de um jeito feminino, que faz a diferença. Eu posso falar sobre os medos delas e tentar oferecer o melhor tratamento possível em cada caso, mas o relacionamento se torna cada vez mais pessoal. Eu considero isso muito recompensador e eu realmente desfruto a conexão.

Para mais informações sobre tratamento de doenças cardíacas na Clínica Mayo de Jacksonville, Flórida, contate o departamento de Serviços Internacionais pelo telefone 904-953-7000 ou envie um email para intl.mcj@mayo.edu.