• Estudo liderado pela Mayo Clinic revela processo biológico que controla vazamento de vasos sanguíneos

JACKSONVILLE, Flórida — Uma equipe de pesquisa liderada por cientistas da Clínica Mayo de Jacksonville, Flórida, decodificou inteiramente o processo que regula o vazamento de vasos sanguíneos — um problema que causa grande número de distúrbios, tais como doenças cardíacas, crescimento e disseminação do câncer, inflamações e doenças respiratórias.

Segundo os pesquisadores, a descoberta, publicada no Journal of Cell Biology, sugere que diversos agentes, já em fase de testes para outras doenças, podem reverter o vazamento dos vasos.

"Agora que já entendemos bem mais sobre o processo que leva ao vazamento dos vasos sanguíneos, podemos começar a tentar intervir de uma forma eficiente e isso é muito estimulante", diz o principal pesquisador do estudo, o presidente do Departamento da Biologia do Câncer da Clínica Mayo de Jacksonville, Panos Anastasiadis.

Os médicos têm tentado regular esse processo em casos de câncer, através do uso de inibidores do VEGF (fator de crescimento vascular endotelial), tais como o Bevacizumab, mas esses medicamentos não são tão eficazes como poderiam ser, se outras partes do processo também fossem inibidas, diz Anastasiadis.

A equipe de pesquisa, liderada por Panos Anastasiadis e Arie Horowitz, da Fundação Clínica de Cleveland, descobriu que o VEGF é uma de duas moléculas diferentes que afetam, em algum ponto, uma proteína-chave, a Syx, para regular a permeabilidade dos vasos sanguíneos.

Os vasos sanguíneos são feitos de células endoteliais, que precisam se acoplar firmemente para formar uma estrutura tubular sólida, através da qual o sangue possa fluir. Os pesquisadores descobriram que o VEGF "desliga" a Syx, que normalmente assegura que as conexões entre as células endoteliais sejam fortes. Sem a Syx, a adesão entre as células é fraca e os vasos sanguíneos ficam mal vedados. Quando novos vasos sanguíneos são necessários — como para alimentar o crescimento do tumor — o VEGF relaxa as células endoteliais, de forma que novos vasos possam brotar.

Então, depois que novas células são formadas, uma segunda molécula, a angiopoietina-1 (Ang1) trabalha para aglutinar as células novamente, explica Anastasiadis. "Essas moléculas têm efeitos opostos, yin e yang. O VEGF expulsa a Syx das conexões entre as células, promovendo o vazamento, e a Ang1 a traz de volta, para estabilizar os vasos", ele diz.

A questão no caso do câncer, no entanto, é que o VEGF domina o sistema. "Não há uma quantidade suficiente de Ang1 para tornar a aglutinar os vasos e esse vazamento permite às células cancerosas escapar do tumor e ir para outras partes do corpo", explica o pesquisador. "Em estágios mais avançados do câncer, ele também promove o vazamento de líquidos para os órgãos, tais como os pulmões. Isso resulta em efeitos profundos que, frequentemente, são fatais".

Outros distúrbios, tais como inflamação ou sepse, uma infecção bacteriana fatal que pode resultar de excesso de líquido nos pulmões, também são induzidos por um vazamento no sistema vascular, ele diz.

Com base em uma análise detalhada das moléculas envolvidas na via VEGF/Ang1/Syx, Anastasiadis acredita que vários agentes experimentais podem ajudar a reverter o vazamento vascular. Um deles inibe a proteína cinase D1 (PKD1), que pode impedir que células endoteliais se desintegrem por perda de adesão; e o outro é um inibidor da Rho-cinase, que impede as células endoteliais de contrair — o que elas precisam fazer para relaxar e se tornar mal vedadas.

"Agora temos novos cursos de ação, tanto para ampliar a pesquisa básica sobre o vazamento dos vasos sanguíneos, como para descobrir um potencial tratamento clínico", afirma o pesquisador.

Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, da Escola de Medicina Dartmouth e da Universidade Case Western Reserve também contribuíram com o estudo.

A pesquisa foi financiada por verbas dos Institutos Nacionais de Saúde, da Fundação Hitchcock e da Escola de Pós-Graduação Mayo, e ainda por uma Subvenção do Desenvolvimento de Cientistas da Associação Americana do Coração.

Para mais informações sobre tratamento de câncer na Clínica Mayo de Jacksonville, Flórida, contate o departamento de Serviços Internacionais pelo telefone 904-953-7000 ou envie um email para intl.mcj@mayo.edu.

Sobre o Centro de Câncer da Mayo Clinic

Como uma importante instituição financiada pelo Instituto Nacional do Câncer, o Centro de Câncer da Clínica Mayo conduz pesquisas básicas, clínicas e da ciência da população, traduzindo descobertas em métodos aperfeiçoados de prevenção, diagnóstico, prognóstico e tratamento.