
JACKSONVILLE, Flórida, 12 de março de 2014 — Quando um paciente recebe um diagnóstico indicando que sua doença não tem cura, ele e sua família entram em um processo de mudanças radicais em suas vidas. O tratamento paliativo visa oferecer cuidados completos aos pacientes afetados e a suas famílias. Isso inclui o controle da dor e outros sintomas, bem como a resolução de problemas psicológicos, sociais e espirituais, um trabalho que deve ser feito por uma equipe multidisciplinar de profissionais.
Em vista da importância desse assunto, o médico Robert Shannon, da Clínica Mayo de Jacksonville, Flórida, respondeu perguntas sobre esse modelo de tratamento e as diferenças com os métodos tradicionais de cura. Shannon é professor adjunto de Medicina da Família e Medicina Paliativa na Clínica Mayo.
O que é tratamento paliativo?
A Organização Mundial de Saúde o define como “o tratamento completo e ativo de pacientes, cujas doenças não mais respondem a tratamentos curativos; portanto, o objetivo principal é conseguir controlar a dor e outros sintomas, bem como problemas psicológicos, sociais e espirituais”.
Como esse tratamento pode ser descrito?
Ele não se relaciona a temas como “a boa morte” ou “como morrer”; em vez disso, se relaciona com “viver bem”, mesmo no caso de uma doença incurável.
Como o tratamento paliativo é aplicado na prática?
A Organização Nacional de Assistência a Pacientes Terminais e Tratamento Paliativo (National Hospice and Palliative Care Organization) dos Estados Unidos define o tratamento paliativo de forma simples e eloquente: “Avaliar, antever e aliviar o sofrimento”. Essa é uma abordagem, muito ampla, que reafirma a vida e considera a vida e a morte como processos naturais. Esse tratamento nunca acelera a morte do paciente, nem a retarda; o foco é tratar os sintomas do paciente, que são tão importantes como a própria doença.
Há um ditado do século 16 que resume essa ideia: “Cure algumas vezes, alivie frequentemente, conforte sempre”.
Por exemplo, em um estudo sobre tratamento paliativo precoce, com pacientes com câncer de pulmão metastático do tipo “célula não pequena” (que é o mais comum e com o melhor prognóstico), uma melhora significativa na qualidade de vida e no estado de ânimo do paciente foi observada. Com o tratamento paliativo, essa avaliação agressiva do sintoma e o tratamento para esses pacientes com câncer em estágio avançado conseguiram uma sobrevivência mais longa do que com o método tradicional.
O tratamento paliativo aborda outras questões além das que são especificamente médicas ou clínicas?
O tratamento paliativo alivia sintomas que causam sofrimento ao paciente, integra os aspectos psicológicos e espirituais do tratamento e oferece um sistema de apoio para ajudá-lo a viver tão ativamente quanto possível até sua morte. Ele também dá apoio à família, para que aprenda a lidar com a doença e, finalmente, com a perda de um ente querido.
O tratamento médico tradicional também é necessário?
Sim, a quimioterapia, a radioterapia e mesmo a cirurgia exercem papéis relevantes, quando os benefícios sintomáticos são maiores que as complicações que podem trazer.
Então, quais são as principais diferenças entre os métodos tradicionais e o método paliativo?
São várias. Em primeiro lugar, o propósito do modelo tradicional é curar o paciente, enquanto o do método paliativo é aliviar o sofrimento. O método tradicional tenta analisar a doença. O paliativo, em vez disso, se foca em todos os aspectos do sofrimento. É uma abordagem existencial. Outro aspecto é o de que, enquanto o modelo tradicional reflete um conflito entre o corpo e a mente, no método paliativo, os sintomas que causam a dor são considerados como entidades e a unidade do tratamento inclui a família.
Está claro que existem diferenças notáveis nos métodos.
Isso é verdade. Enquanto para o método tradicional de cura a morte representa uma falha no tratamento, para o método paliativo a morte é uma parte inevitável da vida. Por essa razão, o método tradicional propõe o tratamento a qualquer custo, seja para conseguir a erradicação da doença ou apenas uma melhora, mesmo que lenta. Sob a perspectiva do método paliativo, por outro lado, o tratamento será bem-sucedido se a pessoa passar a viver bem apesar da doença, mesmo que venha a morrer a qualquer momento. Além disso, o tratamento precisa ser consistente com os valores, crenças e interesses do paciente e de sua família.
Existem recomendações para melhorar o tratamento, de uma forma geral?
Vários estudos já concluíram que é necessário dar uma nova direção a nosso sistema de saúde. Um relatório de setembro de 2013 observa que, muito frequentemente, o tratamento não se foca no paciente. Muitos pacientes não recebem tratamento paliativo e as decisões de tratamento não são baseados nas últimas evidências disponíveis. Também há falta de profissionais da medicina treinados em tratamento paliativo, o que resulta em uma disparidade no acesso entre os métodos de tratamento.
Nós temos observado que essa nova abordagem ao tratamento requer um forte comprometimento entre os pacientes e os profissionais que os tratam. Como isso é conseguido?
Para fazer com que os pacientes se comprometam com a terapia, a equipe de tratamento tem de seguir vários passos. Em primeiro lugar, eles precisam fornecer aos pacientes e suas famílias informações compreensíveis sobre o prognóstico do câncer, os benefícios e os riscos do tratamento, o tratamento paliativo, apoio psicossocial e considerar todas as opções de tratamento. A maioria dos pacientes quer, no final das contas, ter informações precisas sobre o diagnóstico, os prognósticos e as opções de tratamento. Mas nem todos. Nesse caso, o paciente pode preferir que as informações sejam dadas a seu cônjuge ou a um parente. Nós certamente respeitamos seu direito de fazer isso.
Que profissionais fazem parte da equipe de tratamento paliativo?
A equipe é formada por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, farmacêuticos e um capelão, todos focados no paciente em sua família, de uma maneira coordenada.
Qual o nível de conscientização ou de importância que se dá ao tratamento paliativo nos Estados Unidos?
Até agora, neste país, há uma integração do tratamento paliativo com o tratamento padronizado do câncer, seguindo os critérios estabelecidos por grupos tais como a Sociedade Americana de Oncologia Clínica e a Rede Nacional de Tratamento Completo do Câncer. Mas há aspectos que precisam ser melhorados. Por exemplo, um artigo no Jornal do Câncer para Profissionais da Medicina, declara que “a avaliação e o diagnóstico inadequados da dor provocada pelo câncer continua a ser um grande problema de saúde pública, que precisa de ação imediata e coordenada”.
Reuniões com a família são, com frequência, parte do tratamento paliativo. Como elas são realizadas?
A reunião com a família pode ser feita no quarto do paciente ou em uma sala de reuniões com o médico e a equipe e, frequentemente, na presença de um padre ou de outro representante da religião do paciente. Um objetivo é assegurar que o paciente e sua família entendam o estágio atual da doença e seus prognósticos. Também é necessário entrar em um acordo sobre quem vai tomar decisões caso o paciente não possa fazê-lo por si mesmo. É importante esclarecer os objetivos do tratamento do paciente e da família, especialmente quando há discordâncias entre o paciente, a família e a equipe médica. Na verdade, o “esclarecimento dos objetivos do tratamento” é o pedido mais frequente a nosso serviço.
Isso deve ser uma atividade bem complexa, considerando que, além das condições do paciente, outros aspectos e outras pessoas estão envolvidas, talvez com opiniões diferentes.
Sim. Por exemplo, precisamos ter critérios e sensibilidade para determinar a quantidade de informações que o paciente e sua família querem ter e, até mesmo, sugerir a preparação de um testamento, se isso ainda não foi feito.
O aspecto ético/jurídico do tratamento se refere ao status jurídico do paciente, sua capacidade de tomar ou não decisões e os chamados “cinco desejos”, correto?
Sim, os cinco desejos se referem a:
Quais são as recomendações finais?
Para os pacientes e suas famílias: Digam ao médico ou à equipe de tratamento quais são suas esperanças e o que é mais importante nessa situação. O paciente deve pensar no que lhe dá alegria, prazer e maior significado a sua vida. Todo o tratamento paliativo é dedicado a atender os objetivos de vida do paciente, mesmo que ele esteja enfrentando uma doença incurável. (Aliás, esse não deveria ser o objetivo de todo o mundo, a qualquer tempo?)
Para mais informações sobre tratamento paliativo na Clínica Mayo de Jacksonville, Flórida, contate o departamento de Serviços Internacionais pelo telefone 1-904-953-7000 ou envie email para intl.mcj@mayo.edu. Para mais informações em português, visite mayoclinic.org/portuguese/.
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